terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bonecas de Papel

Quem não se lembra daquelas bonequinhas de papel que nossos pais compravam nas bancas de jornais???

Antiguidades



"Sou antiga que só. Ainda prefiro a madeira nobre e sua dureza permanente aos compensados e suas transitoriedades. Gosto dos guarda-roupas que abrigaram outras épocas. Roupas que vestiram corpos há muito tempo sepultados. Móveis vividos, especialistas em humanos e suas relações. Neles os cupins não imperam... Apenas espiam orgulhosos, desejosos, mas incapazes. Móveis herdados, legados de gerações passadas e testemunhas de outros tempos.

Ainda prefiro os casarões de assoalhos, suas paredes altas e seus interiores naturalmente refrigerados aos apartamentos modernos com as suas refrigerações artificiais.

Não me acostumo à vida moderna e suas transições... O que é de hoje dura pouco, respiro curto, vida breve, quase um rastro de passagem; um susto. Antes a vida prolongada, a demora salutar que nos permitia o costume, a adequação aos poucos e a completa identificação mais tarde.

As coisas eram mais velhas que as pessoas. Hoje não, a idade das coisas não prevalece sobre os humanos; tudo acabou de chegar, e muito em breve vai partir.

Antes a cômoda acompanhava as gerações, as cristaleiras resguardavam saudades e as porcelanas acenavam para os significados que a memória por sí só não seria capaz de segurar no tempo. As coisas sacralizam os significados.

Eu não me acostumo com as insignificâncias.

Sou mulher de bordados extensos. Nunca temi a demora das tramas.

Não sou arte que deva ser apreciada com pressa. Sou feita de detalhes antigos que carecem de contextualizações. Quem quiser que venha, mas antes se informe, pois sou igual aos museus: tenho horário pra fechar."

Pe. Fábio de Melo